Uma série de entrevistas com alguns dos maiores nomes da ciência psicológica brasileira está a caminho! A série Psicologia Brazuca, uma parceria entre os blogs SocialMente e Cogpsi, tem o objetivo de contribuir para a divulgação científica das pesquisas de alta qualidade feitas em solo brasileiro por pesquisadores que vêm se destacando em suas áreas de atuação e promover a discussão dos problemas que enfrentamos no Brasil para fazer ciência. Estarão em pauta diversas questões do interesse de profissionais de psicologia e de pessoas interessadas por esta área do conhecimento. A cada mês, duas entrevistas serão publicadas, aguardem a primeira que já está a caminho!  

23.2.12

Quem tem medo de Estatística? - Parte I

Postado por Marcus Vinicius Alves |


texto escrito por mim e pelo André Luiz Souza do blog Cognando



Se você acabou de passar no vestibular e vai começar a cursar Psicologia, parabéns! Bem vindo ao clube! E se você teve a curiosidade de verificar a grade curricular do seu curso, deve ter notado que, apesar de variar de universidade para universidade, você terá que cursar pelo menos uma ou duas disciplinas de estatística. Isso mesmo! Você não leu errado, não. É estatística mesmo. E já sabemos o que você está pensando: “Poxa vida! Escolhi Psicologia justamente para fugir de matemática e disciplinas exatas! Aí não vale!” É fato: dez em cada quinze graduandos em Psicologia odeiam a simples idéia de ter que lidar com números e fórmulas novamente. Mas não se preocupe. A boa notícia é que a história não precisa ser assim.

Estudar estatística não é um bicho de sete cabeças, estatística não é uma disciplina difícil. E no final das contas, é possível sim chegar à pós-graduação tendo um conhecimento sólido e robusto sobre estatística e, o mais importante, um conhecimento sólido e robusto sobre como utilizá-la.

Mas por que toda essa aversão à estatística por parte de alunos de Psicologia? Por que será que eles temem tanto essa disciplina? Na nossa opinião, são vários os motivos que levam os alunos de Psicologia a não gostarem de estatística. Vamos tentar, nessa postagem, desmascarar alguns desses motivos e mostrar que estudar estatística pode ser até divertido.

Estatística não é matemática.

O primeiro grande motivo que leva os alunos de Psicologia (e em certa medida alunos das ciências sociais e humanas em geral) a odiarem ou temerem estatística é a conexão inevitável (e muitas vezes errônea) que se faz entre estatística e matemática. Vamos começar sendo bem diretos: Estatística não é matemática. Estatística não é nem um ramo da matemática. É óbvio que matemática faz parte da realidade do estudo da estatística, mas o fundamental da estatística não é saber matemática. Um engenheiro, por exemplo, precisa saber matemática, mas ninguém diz que engenharia é um ramo da matemática. E mais ainda: ninguém diz que o simples fato de saber matemática faz de uma pessoa um bom engenheiro. Uma lógica parecida acontece com a estatística: saber matemática não te faz ser uma pessoa boa em estatística. A matemática é, na verdade, a ferramenta que se utiliza para a formalização das idéias estatísticas. A matemática somente passa a ser cogente para o campo da estatística quando o objetivo é desenvolver teorias estatísticas (o que não é o caso da maioria dos psicólogos que a utilizam). A prática da estatística não requer conhecimento profundo de matemática. Pelo contrário. O tipo de conhecimento necessário para o profissional que utiliza estatística é bem diferente do conhecimento necessário para o profissional que desenvolve estatística. Para o profissional que utiliza estatística é necessário um conhecimento mais profundo acerca da utilidade da ferramenta estatística. Esse ponto nos leva para o segundo motivo pelo qual as pessoas odeiam estatística: a maioria das pessoas não sabem nem pra que ela serve.

Para que estudamos estatística?

Uma das principais características da cognição humana é o fato de que, sob condições de incerteza, nossa mente funciona em níveis pouco funcionais. Em outras palavras, quando não sabemos o porquê de algum evento e/ou acontecimento, o nosso sistema cognitivo se ‘sente’  atrapalhado e não funciona direito. É possível que isso aconteça no estudo da estatística. Na maioria das vezes, os alunos não fazem a menor idéia do porquê devem estudar estatística. Não sabem nem para que serve a disciplina e qual é a conexão dela com o estudo da psicologia. Mas afinal de contas, para que estudamos estatística? Essa pergunta pode ser respondida sob duas perspectivas: em termos práticos e em termos científicos. Em termos práticos, você estuda estatística por que ela é uma ferramenta importante no tipo de metodologia que se utiliza na construção de conhecimento em psicologia. Estatística é ferramenta fundamental em um design experimental. Assim, para entender resultados de pesquisa divulgados em um artigo científico, por exemplo, é necessário conhecimento de estatística. Em termos mais práticos ainda, se você pretende fazer um doutorado no exterior, por exemplo, conhecimento de estatística é mandatório na maioria dos programas (alguns programas chegam a exigir comprovação desse conhecimento em forma de certificados, por exemplo).

Em termos teóricos, nós psicólogos estudamos comportamento humano. Por definição, o que caracteriza a beleza do nosso trabalho é o fato de que o comportamento das pessoas varia. A estatística é a ferramenta que nos ajuda a compreender - de maneira sistemática - essa variação. É simples assim. Estatística só faz parte do nosso cotidiano por que lidamos diretamente com variação. Todo e qualquer teste estatístico que você aprender daqui pra frente (não importa o grau de sofisticação do procedimento: ANOVA, Teste t, Regressão Simples ou Múltipla e até mesmos Análises de Agrupamento, PCA, Séries Temporais e Inferência Bayesiana) tenha isso em mente: o que se quer entender é a variação que existe nos dados. Pronto! Se você conseguir pensar assim toda vez que estiver lidando com estatística, você vai notar que (1) ela não é tão difícil assim, pois a maneira que utilizamos para mensurar variação é a mesma em vários testes diferentes e (2) é até divertido entender a variação das coisas de maneira sistemática. É importante ressaltar a idéia de “auxílio” que a estatística tem. Uma das principais frustrações de alunos que estudam estatística é quando eles descobrem que estatística por si só não prova nada.

Estatística não prova nada

É muito comum encontrar pessoas que acreditam que análise estatística é uma maneira de provar os resultados de uma pesquisa, terminando por se afastar desta disciplina a partir da crença de que esta tenderia a ser determinista – onde a pretensão da aplicação estatística às pesquisas em psicologia seria determinar quando e porque comportamentos obrigatoriamente ocorreriam. Essa forma de pensar a estatística está errada. Estatística não prova nada. E quando o aluno descobre isso, vem a frustração. Por isso vale ressaltar a idéia de que “estatística é a simples ferramenta que ajuda a compreender variação”. Ela não explica a variação e nem prova a causa dessa variação. Tudo na vida varia. Nós seres humanos, estamos mais que acostumados com a variação das coisas e a estatística apenas nos ajuda a entender até que ponto a variação que vemos em alguma coisa é uma variação normal (esperada e que não nos causa nenhuma surpresa), ou é uma variação surpreendente, ou seja, uma variação que ninguém espera encontrar. A estatística simplesmente nos ajuda a “localizar” essa variação inesperada. No entanto, ela não faz o nosso trabalho intelectual que é buscar respostas para a causa dessa variação.
Uma análise estatística nos auxilia a corroborar ou refutar hipóteses. Um exemplo: Se você pega um copo de café com leite, é impossível dizer o que foi colocado no copo primeiro, o café ou o leite. Certamente você vai rir da nossa cara se dissermos que Joãozinho tem o poder de adivinhar qual líquido foi colocado primeiro. Mas como cientista, você não deve rir, mas sim testar essa hipótese: Joãozinho tem o poder de adivinhar! Para testar é simples: vamos fazer um copo de café com leite sem que ele saiba e perguntar a ele o que foi colocado primeiro. Vamos fazer isso uma vez. Vamos supor que ele acerte. Isso prova que ele tem o poder de adivinhar? Certamente que não! Ele pode ser acertado “no chute”. Então vamos fazer 2 vezes. Suponhamos que ele acerte as duas. E agora? Isso prova que ele tem o poder de adivinhar? Ainda não. Ok. Vamos fazer 100 copos de café com leite. Suponhamos que ele acerte 97. E agora? Isso prova que ele tem o poder? Ainda não, mas tenho certeza que você vai estar coçando sua cabeça e dizendo “aí tem coisa”. A idéia básica da estatística é essa: te ajudar a perceber que “aí tem coisa”. O seu trabalho como intelectual é levantar hipóteses sobre “o que pode ser” e testar essas hipóteses (assim como fizemos com o copo). No final, você não prova nada, mas fica ou não intrigado por um fenômeno e avança na investigação das suas causas.

Estatística é fundamental para a ciência empírica

A utilização da estatística é fundamental para a construção do saber científico. Embora não seja uma totalidade, grande parte da ciência é pautada em hipóteses que podem ser submetidos a uma testagem e experimentação, e essa testagem vem na forma de análises estatísticas densas. E no final, mesmo a possibilidade de formação de um argumento crítico a alguma teoria depende intensamente do conhecimento acerca das análises feitas. É muito comum estudantes de psicologia passarem a graduação longe das áreas científicas do seu curso e ao se formarem perceberem suas dificuldades com leitura e compreensão de artigos científicos (afinal, não compreendem por inteiro as análises feitas) e assim, tendo pouca capacidade para criticá-los.

Este texto vem como um primeiro passo para entender a importância da disciplina estatística para os psicólogos, há muito ainda a ser discutido, como o que seria o índice ‘p’, de onde ele vem e porque ele é tão utilizado para embasar os estudos realizados. Outro ponto é a importância desta disciplina para o profissional de psicologia, não só para o cientista, mas para aqueles que da área aplicada. Será realmente que não há necessidade alguma de aprender o funcionamento desta ferramenta? Deixamos essas reflexões por enquanto e pretendemos dar continuidade a essas discussões, mas é sempre interessante lembrar que se a uma prática baseada em evidências se faz importante, só a partir da análise criteriosa dos dados encontrados isso será possível. E essa análise cabe a você também, futuro profissional da psicologia.

16.2.12

Podcasts de Psicologia

Postado por Marcus Vinicius Alves |


Podcast é o nome dado a arquivos de áudio publicados na internet onde, basicamente, você poderá sempre ouvir discussões, mesas-redondas, entrevistas e afins sobre o tema que desejar.


Como não poderia deixar de ser, há também os podcasts relacionados com a psicologia e apresentados por grandes professores. Alguns que encontrei recentemente são bons podcasts de psicologia, todavia, esses podcasts são todos em inglês, mas em breve, quem sabe, surjam os Podcasts de psicologia em português, apresentados por professores da área e abordando a realidade das pesquisas nacionais.


Confira uma lista:

60-Second Mind: Um podcast de um minuto sobre as últimas novidades em pesquisas sobre cérebro e comportamento, atualizado aos Sábados.

All in the Mind from ABC Radio Australia: Podcast semanal apresentado por uma jornalista da ciência chamada Natasha Mitchell sobre cérebro e comportamento que aborda temas como sonhos, depressão, vício, inteligência artificial etc.

All in the Mind BBC: Outro podcast semanal. Neste o foco são os limites da mente humana, tratando de distúrbios do sono ou de programas de saúde mental. Em um episódio recente o prêmio Nobel Daniel Kahneman foi entrevistado.

Cognitive Daily Podcast: Podcast gerido por Greta e David Munger, que debate os tópicos recentes em ciência cognitiva.

Psychology 164: Social Cognition: Podcast do professor John Kihlstrom da Universidade da Califórnia. Exclusivo sobre tópicos da Cognição Social, como percepção social, categorização social e julgamento social.

The Brain Science Podcast: O médico Ginger Campbell discute as novidades das neurociências. Um post recente abordou o livro “Muito Além do Nosso Eu” do neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis.

The Psychology of Attractiviness: Podcast publicado mensalmente onde são abordados temas como traição, ciúme e relacionamentos em geral.

This Is Psychology Podcast: Norman Anderson, chefe executivo da APA, traz discussões acerca de trabalhos que estão sendo publicados atualmente com temas variados como saúde mental e bullying.

The Wise Council Podcast: Podcast para terapeutas. Aqui o psicólogo David Nuys apresenta discussões sobre tratamentos psicoterápicos e entrevistas com outros psicoterapeutas.

11.2.12

O Cogpsi voltou!

Postado por Marcus Vinicius Alves |



Depois de um hiato, uma pausa na publicação de textos – bem longa, admito – o Cogpsi finalmente voltou, ou melhor, está voltando, pois esse não é um texto “oficial”. Espero a partir de agora poder voltar a postar textos sobre psicologia com mais frequência. O motivo principal dessa pouca produção do Cogpsi nesse final de 2011 era a intensa luta deste que vos escreve para conseguir se adaptar não só à capital paulista, como também para poder organizar a vida em relação aos projetos, artigos e trabalhos do mestrado que aparecem aos montes e sem aviso prévio. Depois ainda dizem que mestrando “só” faz estudar... Isso é um emprego!

Bom, passada a tempestade vem... Acredito que outras tempestades, mas agora com uma noção melhor de como lidar com elas.

Alguns planos para melhorar a qualidade dos textos e permitir uma interação legal com autores de outros blogs que gosto muito começaram a surgir, como o com o André do Cognando, onde escreveremos um texto em conjunto. Esse texto tratará sobre estatística e o seu difícil relacionamento com o estudante de psicologia, digo isso porque sempre adorei estatística e tal ponto sempre se fez extremamente visível durante a minha formação. Principalmente pelas reclamações dos meus colegas. A partir daí, deste texto inicial, quem sabe, penso abordar sempre os pontos da formação em psicologia – e em outras áreas – em que os estudantes mais se veem incomodados e desmotivados, às vezes pela inicial motivação e crenças com que entram nos cursos, outras pelo ensino frágil não só da graduação, como também da própria formação colegial. Outro projeto é com outro André, mas o dos blogs Ciência Uma Vela no Escuro e do SocialMente, este ainda está no início e a ideia surgiu do André e por isso talvez seja melhor esperar um pouco antes de anunciar, mas acredito que vai ser muito interessante.

Além disso, continuo aceitando textos de outros autores, dispostos a contribuir com a produção por aqui. Inicialmente o Cogpsi nasceu fruto de uma necessidade pessoal de escrever sobre tudo que eu lia ou via relacionado com psicologia e com a pretensão de desembaçar um pouco a visão daqueles que acompanham os blogs de psicologia por aí, pois via neste meio pouca abertura teórica, a maioria dos blogs retratavam apenas um tipo de compreensão da psicologia, havia poucos textos baseados em artigos e trabalhos realmente atuais e pouca flexibilidade para abordar os mais variados temas da psicologia, muitas vezes apelando sempre para o mesmo autor ou livro, e superestimando o alcance e tamanho das capacidades interpretativas, científicas e históricas destes. Por isso acredito que outras pessoas também sintam esse desejo de debater acerca da psicologia como ela tem sido feita atualmente de verdade, mas não tenham vontade para criar um blog para isso. E o espaço do Cogpsi estará sempre aberto.

Nesse período em que o blog ficou parado, muita gente me perguntou quando eu iria escrever outro texto e reclamou dessa situação, e peço desculpas por esse desleixo. Pelas estatísticas do blog foi possível ver que muita gente ainda continuou clicando por aqui mesmo com ele parado, talvez procurando verificar se ele estaria sendo atualizado, talvez para reler algum texto, enfim, o importante é ver que o blog ainda estava em movimento nesse tempo.

Então é isso, esse post vem mais para relembrar àqueles que liam o Cogpsi da nossa existência e avisar que voltaremos à programação normal.

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